O Rancho Folclórico de Viegas representa a zona do bairro ribatejano com actuações em vários pontos do país e estrangeiro. Depois de uma paragem de 20 anos devido à guerra colonial, o grupo retomou a actividade em 1990 e desde então nunca mais parou.
Nesta entrevista ao Portal de Alcanede, Nélson Santos, admite que gostava de ver pessoas de vários lugares da freguesia (não só Viegas) a participarem no grupo. Diz que o rancho é da freguesia e que todos são bem-vindos. Em tempos de crise, há cerca de um ano que não recebem os subsídios por parte da C.M.Santarém e reconhece o esforço da J.F.Alcanede no apoio à colectividade.
PA (Portal Alcanede) – Quando foi fundado o R.F.Viegas?
NS (Nelson Santos) – Foi fundado há 20 anos. Antes disso, já tinha existido rancho mas teve um interregno de outros tantos 20 anos. O nosso surgiu a 20 de Maio de 1990 através da Associação Cultural e Recreativa de Viegas, sendo que no passado dia 23 de Maio assinalámos a data com a realização de um convívio.
O Rancho Folclórico de Viegas (R.F.V) apareceu através de várias pessoas que pensaram em ir buscar um bocadinho dos nossos antepassados e daquilo que já tinha acontecido há alguns anos. O interregno aconteceu devido à guerra colonial. Muitos dos nossos antigos elementos foram para lá (antigas colónias), daí a paragem do rancho.
PA – Todos estes anos passados, que balanço faz?
NS – Faço um balanço positivo e ao mesmo tempo difícil de ano para ano, de festival para festival. Cada vez mais é difícil encontrar jovens que queiram vestir um traje que os nossos antepassados vestiam, que queiram ir para cima de um palco mostrar o que se fazia antigamente. No entanto, com um bocadinho de esforço e carolice consegue-se arranjar entre 20 a 30 pessoas, todos os anos uns saem outros entram.
PA – Mas apesar dessa dificuldade de encontrar jovens, aqui na R.F.Viegas a juventude continua bem representada?
NS – Sim. Temos desde os 15/16 anos até aos 88. O nosso tocador de pífaro é uma das pessoas mais idosas no nosso grupo. Fez 88 anos no passado dia 22 de Maio.
PA – O folclore é uma paixão?
NS – O folclore é uma paixão e uma forma de levarmos o que temos da nossa terra por Portugal fora e estrangeiro. Ou seja, é demonstrarmos em outros pontos do país ou do Mundo que estamos aqui num cantinho pequenino, mas que estamos vivos, temos passado. É com alegria que vamos para o palco, sentimos que as pessoas gostam de nos ver e desta maneira estamos a fazer alguma coisa de útil pela nossa terra e pela nossa freguesia.
PA – É um grande orgulho levar o nome de Viegas cada vez mais longe?
NS – Sim, sem dúvida. Por exemplo, quando estamos sem ser em representação do rancho e se fala de Viegas, as pessoas de fora associam imediatamente o nome da nossa terra ao rancho. Isso toca-nos, mostra que o nosso trabalho tem sido útil.
PA – Actualmente quantos elementos compõem o R.F.Viegas?
NS – São entre 37/40 pessoas. De ano para ano há sempre uma ligeira diferença, mas normalmente não desce dos 37 elementos. Difícil é levar todos ao mesmo tempo a uma actuação. Cada vez mais as pessoas vão estudar para longe, passam lá toda a semana e aos fins-de-semana também tem de fazer trabalho escolar. Nós a partir de Junho até final de Agosto quase todos os fins-de-semana temos actuações. Às vezes não podemos aceitar todos os convites, se assim fosse tínhamos actuações todos os Sábados e Domingos. Quer seja um rancho, uma banda ou outro grupo qualquer, quando vai fazer um espectáculo tenta colocar em palco o máximo de elementos e isso nem sempre é possível.
PA – São muito solicitados e isso é um óptimo sinal…
NS – Somos. O ano passado se fizemos 10 ou 12 actuações, poderíamos ter feito 30. Há dias em que recebo duas e três chamadas, mas fazer Sábados e Domingos é complicado, a não ser que sejam em zonas próximas da nossa, mas normalmente são sempre longe.
PA – Têm aparecido apoios?
NS – Já estiveram melhor. A junta tem dado muitos apoios, nós sabemos que hoje em dia as coisas estão muito complicadas. A crise apanha todos um bocadinho e ultimamente o principal problema é o facto de os apoios chegarem muito atrasados. Mesmo assim, a junta freguesia de Alcanede ainda é a que mais está a cumprir com os compromissos que têm connosco, nós também temos com ela e tenta fazer o possível para cumprir. A câmara municipal de Santarém está um bocadinho atrasada. Posso dizer que já está atrasada há mais de um ano a nível de subsídios. Temos um protocolo assinado com a autarquia de determinado valor mensal e anualmente temos de fazer 5 actuações pedidas pela câmara e, tanto podem ser em Santarém como em outras colectividades do concelho.
PA – Vamos ter brevemente mais uma edição do Festival de Folclore de Viegas, que já vai na XXI edição. Este é sempre um momento alto do rancho?
NS – Sim. O nosso festival ou de qualquer grupo é sempre o momento alto do rancho. É o momento em que demonstramos às pessoas que estão mais próximas de nós o que temos feito durante o ano. É também o dia em que lançamos mais um elemento que andou a aprender e que terá a oportunidade de dançar uma ou duas músicas. Esse lançamento acontece aqui na terra, para que os seus familiares e amigos estejam perto e também o /a possam apoiar. É uma maneira de motivar o elemento e os próprios familiares. Verem que o tempo “perdido” é bem gasto.
PA – Quais os principais destaques no festival deste ano?
NS – O nosso festival este ano é um bocadinho mais curto a nível de grupos, precisamente por causa da crise que estamos a atravessar e dos tais subsídios que se atrasam muito. Normalmente temos 6/7 grupos participantes e este ano serão 5. Nós vamos abrir o festival, depois temos o «R.F. O Cancioneiro de Cantanhede», «Grupo Folclórico Os Pescadores de Tancos», «R.F. de Baião» e o «Grupo Folclore de Meiriçal»
PA – O RF Viegas está bem vivo e recomenda-se?
NS – Sim. Está bem e recomenda-se. É bom para nós, para a freguesia e só temos pena de não ter mais jovens de outras zonas da freguesia a participarem. Por vezes cria-se aquela imagem de que o rancho é das Viegas e que têm de ser as pessoas daquela própria terra a fazer esse rancho. Eu não penso assim. O rancho é da freguesia e quem quiser aparecer da vila de Alcanede ou de qualquer outro lugar da freguesia é muito bem recebido. Aliás, esse “sacrifício” de fazer mais 4 ou 5 Km’s para representar uma colectividade da nossa freguesia é visto com bons olhos. Ajudam a elevar o nosso nome em Portugal e fora dele. Já fomos ao E.U.A, Itália, Polónia, França, Espanha e há dois anos também estivemos na Madeira. Mais ou menos de três em três anos fazemos uma viagem mais longa.
PA – Nélson Santos muito obrigado pelas suas declarações ao Portal de Alcanede…
NS – Nós é que agradecemos e obrigado por este bocadinho.
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