Dois anos depois de uma primeira tentativa, a Infraestruturas de Portugal(IP) voltou recentemente a marcar árvores nas bermas da estrada entre Alcanede e Aldeia da Ribeira.
Em setembro de 2021 a IP afixou informação dizendo que iria abater as árvores existentes nas bermas da estrada nacional 362. Eram mais de 150 árvores, entre elas sobreiros, carvalhos e azinheiras. Passado este tempo as árvores continuam lá, tinham-se esquecido que para abater árvores de espécies protegidas era necessária autorização do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, sem essa autorização até as grandes empresas incorrem em crime ambiental.
O argumento, à época, era o da criação, ao longo da estrada, de uma Faixa de Gestão de Combustível como forma de contenção de incêndios. Os argumentos valem o que valem; o certo é que quem circulou nesta estrada, ao longo de todo o verão, viu que apesar das altas temperaturas e do elevado risco de incêndio, as bermas da estrada não tiveram qualquer limpeza e passaram o verão cheias de ervas e lixo. Parece que para a IP as árvores são um risco maior para a propagação dos incêndios, enquanto a erva seca e lixo que se acumula nas valetas, ou os eucaliptos que crescem até junto à estrada, não representam perigo que justifique a sua remoção. Será que podemos mesmo acreditar que a motivação da IP era a nossa segurança?
Este propósito da IP de cortar árvores não é ato isolado, por todo o país, de Norte a Sul, alastra a fúria de cortar tudo, tudo o que dê lenha, mudando assim, radicalmente, a paisagem. Veja-se o que está a acontecer na estrada entre Santarém e Rio Maior, em poucos meses, desapareceram centenas de árvores de grande porte, não importando a distância a que se encontravam da estrada ou se sombreavam paragens de autocarros. O argumento aí foi a segurança rodoviária, mas o mau estado do pavimento, os desnivelamentos das bermas e a falta de condições para a circulação de peões mantiveram-se. Também aqui as árvores eram o risco maior, a manutenção da estrada uma coisa secundária.
Queremos crer que, lamentavelmente, a motivação da Infraestruturas de Portugal para estas intervenções tem mais a ver com o valor da lenha do que com a segurança contra incêndios ou, mesmo, com a segurança rodoviária.
Atente-se na contradição: enquanto aqui, apesar das altas temperaturas dos nossos verões, se inventam argumentos para reduzir as árvores a lenha, nos países europeus mais desenvolvidos, com que os nossos políticos tanto gostam de estabelecer comparações, as árvores, mesmo as de beira de estrada, são valorizadas, tidas como património e como tal preservadas.
Será que queremos que as paisagens das nossas terras, um património herdado, mudem assim?
Fotos: Adelino Madeira