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Quinta-feira ,18 Abril, 2024
Artigos de Opinião

Uma reflexão pelo Centro de Saúde de Alcanede

Um episódio lamentável entre um utente do Centro de Saúde de Alcanede (CSA) e um profissional de saúde ocorreu no dia 7 de março de 2013, assunto noticiado no Portal de Alcanede. Por sinal, uma notícia muito bem-feita, informação idónea, com um contraditório equilibrado, ao bom estilo do profissionalismo que os irmãos Coelho nos tem habituado.
Sobre este assunto, não faço intenção de me pronunciar sobre as atitudes e os comportamentos das pessoas envolvidas, porque cada uma terá as suas motivações. Preocupa-me antes as questões que lhe estão subjacentes e que revelam fragilidades que se poderão traduzir em deficiências no serviço que é prestado à população.

Questiono-me por que razão o utente não foi atendido pelo seu médico de família?

Questiono-me por que razão a médica presente apresentava sinais de cansaço, pelo número de consultas efetuadas?

Enquanto utente do CSA sempre me apercebi de problemas da mais variada ordem, que ciclicamente se traduziam em períodos alternados na qualidade do funcionamento desta unidade de saúde, numa espécie de carrocel com altos e baixos. Desde problemas originados pelas reformas do Sistema Nacional de Saúde, às infraestruturas exíguas e inadequadas, mas, sobretudo, problemas motivados por lacunas, em qualidade e quantidade, dos recursos humanos. Não estou com isto a reclamar um serviço perfeito e imaculado. Não. Mas, há mínimos de qualidade de serviço que devem ser assegurados aos utentes e que no percurso do CSA nem sempre foram garantidos.

Muitos desses problemas encontram-se hoje superados com a construção do novo edifício do CSA, mas já todos percebemos de que uma boa infraestrutura ajuda mas não resolve os problemas se não existirem bons profissionais, em quantidade suficiente e, principalmente, motivados.

Nesta breve retrospetiva do CSA os momentos altos do serviço prestado aos utentes estiveram sempre diretamente relacionados com bons profissionais de saúde, nomeadamente médicos, cujo esforço e dedicação nem sempre foi devidamente reconhecido por quem representa a população e os utentes. Perante as inúmeras contrariedades estes médicos acabaram por se desmotivar e seguir um percurso profissional fora de Alcanede, procurando melhores condições de trabalho e de remuneração. Segue-se um período baixo no serviço prestado aos utentes e na falta deste protestamos.

Este é um indicador de que Alcanede não reúne as condições para a fixação de profissionais de saúde e, enquanto todos nós, mas principalmente quem nos representa, não entender isto, dificilmente o CSA reunirá um quadro de profissionais de saúde estável que garanta serviços mínimos e regulares de saúde aos seus utentes.

Não nos admiramos pois que outros episódios, como o que acima referido, voltem a acontecer e acabem por desmotivar os médicos e com eles toda a equipa que se revê no seu trabalho.

Numa situação de aflição, reage-se a “quente” e, sem nos darmos conta, estamos a exigir a bons médicos capacidades de resposta para as quais estes não conseguem atender, simplesmente, porque são humanos e não super-heróis. Revoltados, reclamamos, prejudicando a sua carreira profissional. Mas somos incapazes de ter idêntica atitude, numa situação de incumprimento, de incompetência e de irresponsabilidade, quando um profissional de saúde prejudica o serviço de atendimento do CSA e, consequentemente, os seus colegas.

Por isso, devemos refletir um pouco sobre esta situação e procurar compreender as situações e as pressões a que todos estamos sujeitos, profissionais e utentes, enquanto utilizadores desta unidade de saúde. Para melhorar, é preciso compreendermo-nos uns aos outros, mas também é preciso entendermos, de uma vez por todas, que, enquanto profissionais e utentes, todos temos direitos mas também deveres.

É preciso encontrar uma solução para resolver a situação dos que nada se importam e que nada fazem, porque nada lhes acontece, prejudiquem o CSA. Não podemos continuar a assistir que o justo pague pelo pecador e nada fazer. Por mim, vou dar o meu contributo.

Luís Ferreira

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