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Quarta-feira ,24 Abril, 2024
Artigos de Opinião

Terra Queimada

As chamas que consumiram uma das paisagens mais bonitas da vila de Alcanede foram muito mais que um incêndio e irão privar-nos durante alguns anos de olhar o horizonte orgulhando-nos das cores do imponente Monte da Fonte. Se calhar vale a pena especular se foram causas naturais ou de origem criminosa, embora comungue da opinião da generalidade das pessoas que tem a coragem de admitir que a mão criminosa é mais comum.

Tive a infelicidade de acompanhar dezenas de reportagens televisivas sobre incêndios, sobretudo na região centro do País. Vi e senti o temor e a angústia de pessoas que perderam casas, gado, e em alguns casos todos os seus pertences.

Convivi dias a fio com valorosos e dedicados bombeiros, que apesar de exaustos enfrentavam com dedicação e sabedoria a besta. Ainda sinto na pele e na roupa o cheiro intenso a queimado que teimava em perdurar às vezes por semanas. Foi assim durante os anos mais dramáticos dos incêndios em Portugal, tive momentos em que me assolava a ideia que estava perante uma acção concertada para queimar de vez o país.

Mais tarde acabei por declinar convites para reportagens sobre incêndios. Na realidade isso tem uma explicação, cansei-me de ver as pessoas a chorarem as suas casas e outras preocupadas em lides mediáticas.

Havia nestas últimas, quase como que um êxtase de que finalmente a sua aldeia, afinal também tinha honras da caixa mágica, porque o meu incêndio era maior que o teu. Era chegada a hora da glória suprema da aldeia abrir telejornais. Grande corrupio de repórteres “histéricos”, para apanharem as chamas mais vivas, as grandes labaredas, até à inconsciência. E ali entre a população misturavam-se as lágrimas dos pirómanos e dos que foram despojados, e as criticas e as temperaturas altas e os verdadeiros e os falsos e os loucos.

Na generalidade este era e decerto ainda é o sentimento de muitos bombeiros que por vezes pagam com as suas inestimáveis vidas o preço da causa natural e criminosa dos incêndios. Mas este é também o sentimento da grande maioria das populações, sobretudo da que receia que o fogo lhe leve o fruto do seu trabalho e também da restante que regozija com o mal do seu semelhante e que vive com os olhos em brasa.

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