14.7 C
Alcanede
Sábado ,20 Abril, 2024
Entrevistas

Pedro Andrade: “A tradição das bandas filarmónicas não corre risco de terminar, mas sim de se modificar”

pandrade

pedroandrade3O Portal de Alcanede foi esta semana ao encontro de alguém que já leva já 21 anos de dedicação à música. Começou com apenas 5 anos os seus estudos na Banda Operária Torrejana, na classe de percussão, passando pelo Trompete e Eufónio (Bombardino) instrumento que atualmente executa. É natural de Torres Novas, chama-se Pedro Miguel Antunes Andrade e é desde Março de 2009 Maestro da Sociedade Musical e Recreativa do Xartinho.

pedroandrade1Portal de Alcanede (PA) – Olhando para o seu curriculum é fácil perceber que o seu gosto pela música surgiu muito precocemente. Foi influenciado por alguém em especial?

Maestro Pedro Andrade (MPA) – Sim! Uma pessoa muito especial! Chama-se Eduardo Andrade Henriques, e é o meu avô. Guardo com muita saudade e orgulho a memória do meu avô, que partiu recentemente… Dedicou mais de cinquenta anos da sua vida a uma causa tão bonita como é a música. Lembro-me de o meu avô me levar a ver os ensaios da Banda Operária Torrejana quando tinha dois ou três anos, tenho a imagem de o ver sentado no naipe dos trombones, e também da dedicação que fazia questão de ter todos os dias para ajudar tudo o que estava ligado à música. Foi um Grande Homem…

PA – Acreditamos que para se ser musico não basta querer. Na opinião do Maestro, que condições são necessárias reunir para se fazer da música, carreira profissional?

MPA – Não sei. Talvez sorte. Neste País quando se fala de construir uma carreira na área da música é preciso sempre esperar o inesperado… Eu tento sempre trabalhar e estudar o mais que posso para que possa dar o melhor que sei e assim não ter sentimentos de que poderia ter feito melhor, e é sobre isto que tenho vindo a construir a minha pequena vida musical. Estamos a viver momentos muito difíceis, estou a ver e verei no futuro próximo muitos amigos que são excelentes músicos com todas as condições necessárias para fazer da música carreira profissional a acabar licenciaturas em música e depois não têm trabalho. É muito triste…

PA- É preciso disciplina, trabalho e até sacrifícios pessoais?

MPA – Sim, acho que em qualquer profissão é necessário disciplina e muito trabalho para se poder chegar a algum objectivo profissional, agora sacrifícios pessoais é que custam mais, não ter tempo para a família e não ter tempo para namorar é muito difícil. Tenho a sorte de ter uma família muito compreensiva e uma noiva espectacular que me apoia e ajuda na minha vida profissional, sem reclamar muito.

PA – Ao longo do seu percurso houve algo ou alguém em particular que o tenha marcado pela positiva? Algum professor, alguma instituição?

MPA – Não consigo deixar passar a oportunidade sem referir três pessoas que passaram pela minha vida e que me ensinaram muito. Duas estiveram ligadas durante muito tempo à Banda Operária Torrejana, o Pedro Henriques e o Alcides de Deus, que eram respectivamente Maestro e Professor da banda, foram as pessoas que me ensinaram toda a minha aprendizagem inicial na música e que marcaram a minha adolescência. A outra pessoa foi o meu primeiro professor de Bombardino, chama-se João Aibéu é um grande tubista e pessoa cheia de vontade de fazer, querer e acontecer, que me provou ser possível gostar de musica como se de algo físico se tratasse, mas não é…

pedroandrade2PA – É desde Março de 2009 Maestro da Sociedade Musical e Recreativa do Xartinho (S.M.R.X.), mais conhecida como Banda do Xartinho. Como é que surgiu a possibilidade de representar esta filarmónica da freguesia de Alcanede?

MPA – Bem, nessa altura eu dirigia a Banda Operária Torrejana, e fui contactado pelo Frederico Pestana, musico e director da Banda do Xartinho, que me pediu se eu podia ter uma reunião com a direcção da Banda do Xartinho, esta reunião servia para saber se eu estava disponível para conduzir a banda de música de imediato. Senti que era a altura certa para continuar o meu trabalho “fora de casa”, e aceitei esta oportunidade. Hoje acho que fiz bem.

PA – Quantos elementos compõem atualmente a S.M.R. Xartinho?

MPA – Eu gostaria de dizer antes quem são os músicos que formam a Banda do Xartinho.

Flautas – Sara Venceslau, Rute, Catarina Henriques, Catarina Bento, Clarinetes – Joana Martinho, Luís Dias, João Oliveira, Sara, Margarida, Ana Rosário, Patrícia, Mafalda, Beatriz, Carina, Sax Altos – Frederico Bento, Mariana Marques, Andreia Ribeiro, Ana Nogueira, Sax Tenores – Francisco Santos, Miguel Inês, Trompetes – João Bento, Jorge Venceslau, Filipe Alves, Trompas – Beatriz Mateus, Trombones – Sara Mota, Bruno Ribeiro, Sónia Ribeiro, Bombardinos – Frederico Bento, Bruno Frazão, Tubas – Rui Bento, António, Percussão – Leandro, Lino Augusto, Dúlio Duarte, Pedro Mota, André. Para além destes grandes músicos da Banda do Xartinho, temos a sorte de ter alguns amigos músicos que colaboram muito regularmente com o nosso trabalho que são, o Celso Bento e o João (Gançaria), a Idalina Santos (Torres Novas), o Sandro Manuel (Cartaxo).
Estas pessoas lindíssimas são sem dúvida a matéria principal da Banda do Xartinho, não fazia sentido para mim não mencionar os nomes deles.

pedroandrade3PA – Algo muito interessante de perceber é que a juventude está esmagadoramente representada na Banda do Xartinho. É um excelente indicador para o futuro?

MPA – Sim, o facto de qualquer banda de música ter uma média de idades baixa, como é o caso da Banda do Xartinho é um excelente indicador de futuro. Estes músicos estão e vão tocar juntos durante muito tempo e isso é muito bom. Mas o mais importante na minha opinião é uma escola de música que funcione bem. Todos nós sabemos que qualquer pessoa de um dia para o outro pode ter que mudar a sua vida e se for músico de uma banda tem de abandonar, isto acontece muito frequentemente em qualquer lado, eu acho isto perfeitamente normal quando estamos a falar de músicos completamente amadores que fazem da banda uma paixão das suas vidas. Assim, se não existir uma renovação de músicos constantemente é difícil prever um futuro promissor.

PA – A tradição das bandas filarmónicas, no aspeto da sua continuidade, não corre risco nos próximos anos?

MPA – Sei que algumas bandas filarmónicas estão a passar neste momento por algumas dificuldades, principalmente a nível financeiro pela falta de actividade remunerada e também pela falta de apoios das entidades responsáveis. Mas acredito que a tradição das bandas filarmónicas não corre risco de terminar, mas sim de se modificar ao longo dos anos, como até hoje tem acontecido. Ao longo da história os agrupamentos musicais e as estruturas que os suportam, têm vindo a sofrer modificações, umas por causas financeiras, outras por guerras, outras até sem explicação. Provavelmente estamos a caminhar para mais uma alteração nos conceitos da cultura musical, e eu acho que não é mau, mas sim o futuro.

PA – Quando chegou à Banda do Xartinho sentiu alguma necessidade de fazer alguma reestruturação interna, por exemplo ao nível do reportório?

MPA – Primeiro tive que me adaptar a realidade da banda, perceber qual era o trabalho que a banda vinha a realizar até à data, qual era o futuro, e conhecer todos os músicos de maneira a que pudesse perceber o que é que eu podia fazer com a banda de forma a melhorar o que eu achava que estava mal. Com alguns meses de ensaios e serviços, comecei a alterar lentamente o repertório e adapta-lo às minhas preferências e também às preferências dos músicos. Acho que este processo é perfeitamente natural quando se chega a uma filarmónica e se quer fazer o melhor trabalho possível.

PA – Uma banda com muitos jovens, passando pela própria juventude do Maestro, tem de estar atenta à inovação?

MPA – Sim, acho até que é impossível não estar atento à inovação com tantos jovens com que eu trabalho, e ainda por cima tendo praticamente a idade de muitos dos músico. Não vejo esta característica como sendo algo fora do comum, mas sim algo perfeitamente normal nos dias em que vivemos, todas as inovação no que diz respeito à musica são sempre muito bem recebidas por nós, nunca podemos rejeitar o passado para fazer um bom trabalho no presente, mas, e principalmente aceitar sempre o que o futuro nos vem trazendo ao longo dos anos, para que o nosso trabalho seja rico em prosperidade.

pedroandrade4PA – Além de Maestro no Xartinho, é também responsável pela classe de instrumentos de sopros (metais) e percussão na escola de música da S.M.R.X. Qual a importância da existência de uma escola de música associada à coletividade?

MPA – Como já tinha referido anteriormente a escola de música na minha opinião é a parte mais importante de uma banda filarmónica, é a partir da escola de música que se formam os músicos do futuro e assim um melhor futuro para as bandas de música. Muitas bandas filarmónicas deste país têm dificuldades porque não têm músicos suficientes para poder fazer um trabalho satisfatório, quando isto acontece é quase na maioria das vezes pela precariedade das escolas de música ou até pela inexistência da mesma. Na minha opinião, é fundamental que as escolas de música funcionem com muita regularidade, disciplina e qualidade, para que os nossos descendentes possam ter boas bandas filarmónicas, cheias de saúde.

PA – Como é que se gere o tempo quando se está a frequentar a licenciatura em música na Universidade de Évora, quando se dá aulas também na escola de música da S.M. Payalvense Manoel de Mattos (Tomar) e quando se é maestro na Banda do Xartinho?

MPA – Principalmente sempre a correr de um lado para o outro, mas quando se gosta do que se faz consegue-se fazer muita coisa, Felizmente sempre consegui organizar a minha vida de maneira a que tenha tempo para tudo o que gosto, só em raras excepções é que tenho de faltar a um lado ou outro, mas nada que prejudique alguma instituição ou o meu estudo.

PA – Estamos a caminhar para o Verão 2011, como é que vai ser a atividade da Banda do Xartinho este ano?

MPA – É verdade, este ano teremos um verão cheiro de festas, ainda mais do que o ano passado, com muitas arruadas, procissões e concertos. É de certa forma o trabalho que realizamos com mais frequência e como têm estado a correr muito bem nos anos anteriores, este ano fomos solicitados para ainda mais festas. Para além das festas já agendadas, temos também alguns concertos que queremos muito fazer. Acho que ainda estamos disponíveis para algum contacto que surja entretanto e que esteja ligado à música, gosto muito de desafios e acho que esta banda está preparada e pode fazer com a música coisas muito interessantes.

PA – Muito obrigado pelas suas declarações ao Portal de Alcanede e muitas felicidades, não só para a S.M.R. Xartinho, mas também para a sua carreira musical…

MPA – Eu é que agradeço o convite para esta entrevista, só tenho a felicitar este tipo de iniciativas que na minha opinião ajudam a promover o trabalho de pessoas espectaculares como são os músicos e a direcção da Banda do Xartinho no meu caso, e também de outras instituições similares. Muito Obrigado e muitas felicidades para o Portal de Alcanede.

NOTA: No antigo site do Portal esta página foi lida 3494 vezes

Artigos Relacionados

Pedro Ramos: “É importante não deixar morrer as nossas tradições”

Portal Alcanede

Dj Kristof: “A minha maior inspiração foi o dj Jiggy”

Carlos Coelho

Conceição Gaspar: ” População está envelhecida e amargurada”

Portal Alcanede