Ao logo dos anos tenho ouvido recorrentemente uma expressão que me inquieta, decerto já ouviram alguém dizer,“olha vai ali aquele estúpido!”. Estúpido para isto estúpido para aquilo, num vai e vem incessante de estupidez. Creio que há uma matriz mais ou menos homogénea que faz da estupidez um modo de vida, mas na realidade o que eu mais desejava era experimentar aquela sensação na pele, como que a penitenciar-me por achar que não sou estúpido suficiente.
Então resolvi tentar encarnar alguém que eu considerasse um estúpido com todas as letras, para que as sensações pudessem de facto absorver-me. É claro que não recomendo este exercício, porque para além de ser arriscado, esgota praticamente todas as energias de um ser humano, que apesar de tudo tem direitos, até a ser estúpido.
Então pensei, vou escolher um dia da semana para “encarnar”, um fulano estúpido, por acaso foi a uma quinta-feira. Então bem cedinho arquitectei uma coisa estúpida, e simples como convêm para a estupidez, vai dai cheguei ao emprego e comecei a dizer que os fulanos da meteorologia passavam a vida a enganar-se nas previsões, falei tão despudoradamente de meteorologia, até ouvir um colega dizer, “és tão estúpido! o que é que tu entendes de meteorologia?”, a pessoa em causa fê-lo com uma tal convicção que não tive coragem de dizer que aquilo era um exercício. Já estava a arrepender-me quando me recompus, falei de tudo e mais alguma coisa até a incoerência total.
Ao ponto de começar a achar que os homens da meteorologia afinal, até são mágicos, mas sempre com algumas reservas. Os colegas olhava-me boquiabertos, quando resolvi colocar em causa a ida do homem à lua, não satisfeito testei a estupidez ao limite quando vim almoçar a casa, passados longos minutos a mulher finalmente lá resolveu pronunciar a palavra que eu tanto ansiava, “estás estúpido ou é impressão minha”.
Comecei a ficar agastado e a imaginar que afinal de contas os estúpidos nem se apercebem que o são, melhor assim, ao menos ficam resguardados da frustração que eu próprio senti e, que vive em permanência dia e noite nos seres estupidamente naturais. Quando reconhecer um qualquer estúpido façam-lhe um favor, especialmente se conhecerem a pessoa em causa, chame-o à parte e, na primeira oportunidade falem de coisas sérias, verá ao ponto a que pode chegar um estúpido. Assim de repente lembrei-me de uma estupidez, será a estupidez uma doença não declarada?
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