A sociedade filarmónica alcanedense tem desde janeiro deste ano um novo presidente.
Com apenas 31 anos, José Antunes reconhece que é “uma honra presidir a uma das instituições mais antigas do nosso concelho”. Nesta conversa, o dirigente fala também da satisfação de ver concretizada a mudança de instalações para a antiga escola primária, cuja inauguração deverá acontecer no próximo mês de maio, e dos desafios que se colocam no futuro da Banda de Alcanede.
Portal Alcanede – Quando e como começou a sua ligação à Banda de Alcanede?
José Antunes – Por volta dos meus catorze anos, uns amigos andavam no “solfejo” e desafiaram-me a experimentar. Comecei a aprender, primeiro o solfejo depois o instrumento até que entrei para a banda. Pouco tempo antes de entrar para a banda tive quase a desistir, mas o Maestro da altura, o Sr. João Crespo, e os membros da direcção, lá me convenceram a continuar, e o resultado foi este…
Portal Alcanede – Certamente estaria longe da ideia de que um dia seria o presidente da instituição? Como é que surge esta oportunidade?
José Antunes – Claro. Com o passar do tempo fui-me integrando, fiz grandes amigos, que me acolheram e ensinaram muitas coisas, tanto para a música como para a vida.
Fiz parte de algumas direcções em mandatos anteriores, como membro do Conselho Fiscal, da mesa da Assembleia Geral entre outros e atendendo a minha disponibilidade pessoal achei que era chegada a altura de dar o meu contributo a esta casa, pela qual tenho um carinho especial.
Portal Alcanede – O objetivo passa por dar continuidade ao trabalho de César Martins, um homem com enorme experiência associativa em Alcanede, ou prevê alguma mudança?
José Antunes – A banda tem tido uma evolução progressiva, e de facto o Sr. César Martins foi incansável no esforço que foi necessário para colocar a banda ao nível que está, não que o tenha feito sozinho, mas porque soube congregar todos, direcção e banda, para atingir os objectivos, e, neste sentido pretendo dar continuidade a esse trabalho.No entanto, há sempre algo a acrescentar, como é o caso da escola de música, que continua a dar frutos, mas espero, que com o novo espaço, possa acolher ainda mais alunos e também aumentar a sua oferta, por exemplo, com a criação de uma classe de coro.
Portal Alcanede – Dirigir os destinos de uma banda prestes a comemorar 114 anos, torna a responsabilidade ainda maior?
José Antunes – Sim, antes de mais é uma honra presidir a uma das instituições mais antigas do nosso concelho, uma instituição com um fim ideal e altruísta de ensinar música a quem queira aprender, promover concertos e espectáculos para divulgar a música. Uma instituição que reflecte a imagem da nossa terra por onde quer que se apresente deixando a nossa freguesia e o nosso concelho bem representados e que enche de orgulho qualquer alcanedense, é pois, uma grande responsabilidade, tanto para mim como para toda a direcção, músicos e sócios desta casa, preservar esta riqueza da nossa terra e fazê-la progredir cada vez mais, porque a Banda de Alcanede não pertence aos sócios mas sim a Alcanede.
Portal Alcanede – Sabemos que mantem a atividade como músico da Banda de Alcanede. Como concilia esta particularidade de tocar na instituição ao mesmo tempo que a preside?
José Antunes – Tenho que despender mais um pouco do meu tempo para a instituição, por vezes com alguma dificuldade e em detrimento da família, mas os colegas de direcção também ajudam e tudo se resolve.
Portal Alcanede – A juventude tem sido uma presença constante no seio da Banda de Alcanede, algo que se regista com agrado desde há muitos anos. É na juventude que reside o “segredo” para o sucesso?
José Antunes – Os jovens por serem mais abertos à mudança, à inovação, às novidades, por terem uma margem de progressão maior, por terem a oportunidade que os mais velhos não tiveram, de estudarem em conservatórios, são de facto um dos pilares para o sucesso da banda.
É para nós motivo de orgulho ter neste momento três músicos da “casa” a estudarem na Escola Superior de Música de Lisboa e grande parte dos mais novos a estudarem no Conservatório de Minde.
Portal Alcanede – Não menos importante será, acreditamos nós, a presença e o ensinamento dos que já levam longos anos de dedicação à banda, quer como músicos quer como diretores?
José Antunes – É aí que reside a riqueza de uma “filarmónica”. Para além da música a banda é também um espaço onde se aprendem-se valores humanos, como o respeito, a amizade, a entreajuda, a solidariedade, a responsabilidade, entre outros, e estes “ensinamentos” são feitos por quem acolhe os novos elementos.
Assim se cria um ambiente quase familiar que fortalece o grupo e, consequentemente influencia até o próprio desempenho da banda. Neste momento, existe entre músicos e directores uma amizade muito saudável e da qual me orgulho bastante.
Portal Alcanede – Outro dos “trunfos” é o maestro Alberto Lages?
José Antunes – Sem dúvida. A existir um responsável pelo actual momento que a banda atravessa é o nosso maestro, porque não basta ter músicos bons se não houver quem os faça render. O nosso maestro tem sido um entusiasta e um grande dinamizador da nossa banda, conseguindo fazer com que os músicos acreditem neste projecto e se esforcem para que o mesmo tenha êxito.
Pauta o seu trabalho com grande rigor e profissionalismo separando claramente o trabalho dos laços de amizade que inevitavelmente estabeleceu com a banda e com Alcanede.
Estamos muito gratos pelos seus serviços e esperamos que fique connosco por muitos anos.
Portal Alcanede – Quantos músicos compõem a Banda de Alcanede?
José Antunes – A banda tem cerca de quarenta músicos, por vezes, e quando o reportório assim o exige, torna-se necessário contratar músicos para colmatar algumas lacunas que existem, como é o caso de trombones, trompas, oboé, entre outros, podendo a banda apresentar-se com 55 a 60 elementos, conforme o tipo de concerto.
Portal Alcanede – Quais são os principais desafios que se colocam atualmente à S.F.A (Sociedade Filarmónica Alcanedense)?
José Antunes – Tendo em conta os cortes nos subsídios que a banda tem, e toda conjuntura económica, um dos principais desafios é encontrar fontes de receita que permitam suportar a actividade da banda; Outros desafios são: conseguir que a escola de música mantenha uma actividade regular com uma média razoável de alunos que permitam suprir todas as lacunas da banda; a aquisição de uma viatura pra transporte de material; aquisição de instrumentos, essencialmente de percussão; entre outros.
Portal Alcanede – A câmara de Santarém deve dinheiro à instituição? Qual o valor em causa e desde quando?
José Antunes – Estamos a falar de cerca de 19000€, referentes às mensalidades do protocolo de maio de 2009 a Dezembro de 2011. Em 2012 o protocolo cessou devido às dificuldades financeiras que o município atravessa. Aquele valor inclui também uma verba referente à aquisição de instrumentos, atribuída em 2006 e da qual falta pagar cerca de 3000€.
Quero referir que nestes últimos tempos aprendemos a viver sem o subsidio da Câmara, o que não significa que ele não seja indispensável, pois a banda está num patamar em que era necessário investir para poder continuar este processo de evolução, no entanto, resta-nos encontrar outras fontes de rendimento e se não podermos ir tão depressa vamos mais devagar, mas recusamo-nos a parar.
Compreendo as dificuldades financeiras da câmara, são deveras difíceis, e por isso apenas posso lamentar que o meu município não tenha capacidade para apoiar o ensino e a criação musical, feitas com razoável qualidade e que tem um custo tão reduzido quando comparado com o ensino oficial. Lembro que o conservatório mais próximo se situa a cerca de 30Kms de Alcanede.
Portal Alcanede – Onde é que vão buscar apoios?
José Antunes – Para além dos subsídios da câmara há também um subsídio da Junta Freguesia de Alcanede. A banda tem, também, receitas próprias com as actuações que faz e com os donativos de várias empresas, sócios e amigos da banda. Aproveito para agradecer toda a generosidade demonstrada, por estes, para com a banda, nomeadamente no recente apoio para as obras na escola.
Portal Alcanede – Apesar dos problemas financeiros, nem tudo são más notícias. Recentemente foi dada a possibilidade à coletividade de poder usufruir das instalações da antiga escola primária de Alcanede. Como é que o espaço vai ser aproveitado?
José Antunes – Foi um passo importante para S.F.A., depois de 114 anos temos finalmente um local com condições para as nossas actividades. O edifício vai ficar dotado de uma sala de ensaio com cerca de 70m2, duas salas para a Escola de Música, Secretaria, uma sala para o maestro, uma arrecadação, arquivo e uma sala de convívio.
Pretendemos também que no futuro aquele espaço possa ser utilizado para espectáculos a solo ou por ensembles reduzidos, no fundo, pretendemos alargar a oferta cultural da freguesia que neste momento se resume às bandas e pouco mais.
Portal Alcanede – Sabemos que foi necessário efetuar algumas obras (que ainda decorrem). Para quando a mudança definitiva?
José Antunes – Pretendemos inaugurar o espaço durante as comemorações do nosso 114 º aniversário, já no próximo mês de maio.
Portal Alcanede – Está à porta a comemoração de mais um aniversário. Podemos conhecer alguns pormenores do que está previsto para este ano?
José Antunes – De facto aproxima-se o momento mais importante do ano para a nossa associação. O evento começa no dia 1 de Maio com o peditório na vila. Depois segue no dia 5 com o concerto da nossa Banda Juvenil.
No dia 6 com os concertos pela Orquestra de Sopros da Banda de Ourém e pela nossa banda.
Estamos a preparar mais um grande concerto à semelhança dos anos anteriores. Com excepção de uma obra o restante reportório é completamente novo e inclui uma peça solo para Clarinete e banda.
Portal Alcanede – E que outras atividades a Banda de Alcanede têm programado para 2012?
José Antunes – Ainda não temos datas definidas mas pretendemos fazer um arraial de verão no novo espaço da banda; pretendemos também trazer a Alcanede um grupo de Fados de Coimbra e vamos ter a nossa tasquinha na ExpoAlcanede, como é habitual.
Portal Alcanede – Resta-nos agradecer as suas declarações e desejar as maiores felicidades à Banda de Alcanede…
José Antunes – Eu é que agradeço. São sempre bem-vindos à nossa casa. Quero também desejar-vos as maiores felicidades neste recomeço do vosso projecto, que espero seja definitivo.
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