Quinta-feira ,18 Abril, 2024
Sociedade

Gesto benemérito marca festejos anuais em Espinheira

Os festejos em honra de Nossa Senhora dos Prazeres, em Espinheira, ficaram marcados por um gesto benemérito. Foi durante a homilia proferida pelo padre Tiago Pires e com emoção que Maria Lucília Leal, de 86 anos, conhecida como Dona Mimi pelas pessoas do lugar anunciou a sua vontade, “é com muita alegria que vos participo que depois da minha morte, a casinha anexa à capela ficará para a nossa senhora dos Prazeres e também para todos vós”.

Uma decisão que reuniu o consenso familiar, “o meu filho também sempre me apoiou e achou bem esta atitude” disse ao Portal de Alcanede Lucília Leal, lembrando que a sua mãe” já havia oferecido a terra para fazerem o salão de festas, foi também em nome dela que tomei esta decisão. Sei que estará feliz por ver isto”, desabafou.

Ao lado da casa que futuramente será pertença da capela e que atualmente é moradia de Dona Mimi em Espinheira, vários olhares debruçavam-se para o poço restaurado por vontade da população. A residir em Santarém mas natural da Espinheira, Manuel Inês não escondia o seu agrado “este poço foi recentemente restaurado e foi uma agradável surpresa para mim. Está muito bonito, com uma pedra grande em cima e os respetivos buracos para a água respirar, com duas portas. Está muito bem feito”.

Afinal aquele poço, que agora mais parece um monumento, está carregado de simbolismo e história. E como bom filho da terra, conhecedor da história local, Manuel Inês logo se apressou a dizer, “é um poço muito antigo e que no tempo dos Reis, quando vinham de Sul para Norte, tinham aqui uma paragem quase obrigatória”. Rodeado de alguns amigos que acenavam com a cabeça como concordando com o desenrolar da história, o Portal de Alcanede ficou a saber que nos tempos da monarquia “dormia junto ao poço uma família que fazia a segurança do mesmo para que a água não fosse envenenada”.

A poucos metros do histórico poço já se começava a ver a azáfama própria do arraial em dias de festa e que caracteriza os lugares da freguesia de Alcanede. Antes, decorreu a tradicional procissão em honra de Nossa Senhora dos Prazeres que levou centenas de pessoas a percorrerem algumas ruas do lugar.

No arraial a quermesse, o bar e um palco improvisado para dar lugar à música, este ano abrilhantada pela Bandinha da Moca. Mas na Espinheira existem alguns aspetos que marcam a diferença, “realmente é preciso conhecer um pouco a nossa tradição para perceber como se desenrola a nossa festa”, disse com entusiasmo Jorge Inês. Na verdade as adegas funcionam quase como um roteiro turístico e “de ano para ano aparece sempre mais um ou dois amigos. Vamos à adega do Mário, vamos ao Renato, vamos ao Elísio, vamos ao Zé Emílio, vamos ao Zé Avelino. É um convívio muito engraçado”, como constatou a nossa reportagem.

À conversa juntou-se António Arroteia, o anfitrião que horas antes brindou os amigos e familiares à volta de uma mesa com a melhor gastronomia, confecionada por mãos muito apuradas que deram um toque de excelência ao cabrito, bacalhau com natas, frango corado e doçaria. É assim pelos lados da Espinheira, uma tradição que as famílias não dispensam na arte de bem receber, “as pessoas nestes dias têm o prazer de terem as suas portas abertas, com petiscos e vinho da região. Não há convidados especiais, todos os que aparecem podem e devem participar. É uma tradição que temos há muitos anos”.

Por se tratar de um lugar pequeno, “os elementos da Comissão da Igreja são os mesmos da Comissão da Festa e da Casa de convívio”, admite António Arroteia. Todo o dinheiro que é obtido dos lucros das festas “revertem para o bem da comunidade”, seja para a Capela, para obras, seja espaço público ou aquisição de compra de terrenos (como já aconteceu).

Como manda a tradição as festas em Espinheira são pela altura do domingo de pascoela. A data marca simbolicamente um hábito perdido no tempo, mas que vigorou por várias gerações onde o trabalho árduo do campo era o principal sustento das famílias. Por essa altura, segundo os habitantes locais, institui-se o início da sesta, uma regalia dada aos trabalhadores que tinham direito a duas ou três horas de sesta, para descansarem ao meio da tarefa.

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