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Artigos de Opinião

Joaquim Victorino: “A política e os políticos nem sempre fazem o que devem, porque lho consentem…!”

Joaquim Victorino não é apenas do lugar onde nasceu, Mosteiros – Alcanede. As inúmeras páginas que escreveu para os netos traduzem-se, já, em 7 livros, a caminho do oitavo. Uma universalidade de pensamento, de ser e de estar, e a herança cultural para quem a quiser ler, muito além da generosidade familiar. “O homem é muito mais do que a sua própria pessoa na circunstância e nos egoísmos do dia que passa”, afirma. 

 

A uma solicitação do Portal de Alcanede, para uma entrevista, respondeu com uma carta que tornamos pública por seu consentimento. Agradecendo a disponibilidade e amabilidade.

Vai esta em correspondência privada, que pode muito bem ser tornada pública, se assim o entenderem os prezados destinatários, irmãos Paulo Coelho e Carlos Coelho, responsáveis por essa excelente Página Informativa nas Redes Sociais, em cujo Estatuto Editorial se lê, logo no ponto n.º 1: “O Portal Alcanede assume-se como um projeto informativo de âmbito regional, generalista, pluralista e que tem como objetivo assegurar a todos os leitores o direito à informação”. É, pois, com admiração e respeito por esse Projecto, a que aderimos como leitores e vamos acompanhando no dia a dia, que escrevo esta carta, na sequência de um convite que me foi dirigido para uma entrevista, na qualidade de autor de três livrinhos sobre Alcanede, respectivamente com os títulos “Alcanede minha Mátria”, O Castelo de Alcanede” e “Alcanede minha Mátria, Suplemento Especial”.

vitorino 01Modéstia à parte, sinto-me honrado com tal convite, e, tendo pensado em aceitá-lo, fui tomado por uma estranha sensação de egoísta, que me desvirtuaria a mim próprio e àquilo que, tão naturalmente vou escrevendo e partilhando com quem me quiser ler. De facto, se em tudo isto há, porque realmente há, uma pequena obra que poderá ter o seu interesse, é na leitura dessas páginas que se pode encontrar quem as escreve. Por outro lado, se quem escreve faz do que diz o objecto da coisa, não vamos importantizar quem diz, mas, antes, o que é dito. Esta perspectiva traz-me á lembrança o que de si disse um grande escritor regional, com quem convivi, falecido em 2011 – Joaquim Lagoeiro – a quem alguém colocou esta questão: “…nos seus livros, fala tanto dos outros e nunca falou de si!” E disse ele: “Quando falo dos outros, de mim próprio falo”.

Ora, o Portal Alcanede convida-me a responder a uma série de questões sobre a minha meninice em Mosteiros e Alcanede, e sobre o que penso da freguesia de Alcanede no presente, e de, como pode o leitor ter acesso a tudo que tenho escrito. Na verdade, são já milhares de páginas em forma de Livros (sete), que desde 2007 até hoje tenho vindo a escrever para os meus netos. A intenção e motivação inicial ia apenas ao encontro deles, como uma herança cultural. Porquê? O homem é muito mais do que a sua própria pessoa na circunstância e nos egoísmos do dia que passa. O homem é uma Pátria, ou Mátria, e uma cultura; e esta é a herança de todo o passado onde cada um de nós se identifica numa família e linhagem tempos adentro, num lugar ou geografia, nos costumes, numa comunidade ampla, numa História que dá sentido ao presente e nela respiramos orgulhos.

Tenho vindo a escrever para os meus netos, incutindo-lhes essa visão e responsabilidade, mas, em cada um dos livros que abrangem títulos diferentes, tenho o cuidado de os justificar com as motivações (lat. motu, motivu + actione). É isso. Eu tenho alma (lat. anima) que é passado feito de herança e presente feito de experiências e avanços, e quero dar continuidade a essa esteira onde as gerações repousam ligadas. É aí que, quem quiser saber quem sou e o que penso, me pode encontrar. Quase direi que, o que interessa é o que fica escrito e não quem o escreveu. E o que fica escrito a pensar nuns poucos que são parte do todo, obviamente vai interessar a muitos outros que se situam no mesmo universo. Foi ao reconhecer isso que, nos últimos títulos sobre a minha terra e sobre a terra da mãe dos meus filhos, eu mandei fazer muitos mais exemplares e os ofereci a mais familiares e amigos (partilhei) e registei (Depósito Legal) para poder chegar, através das bibliotecas públicas, a quem interessado. Mas, no meio disto tudo, o que menos interessa sou eu, não obstante me obrigar a escrever lá, por responsabilidade, quem sou e o que fiz na vida.

Eu calcorreei a pé, diariamente, como parte dum ranchinho de rapazes e raparigas entre os sete e os onze de idade, aqueles dois ou três quilómetros pela estrada nacional 362, a ligar a casa de cada um à Escola, que era onde agora está a Junta de Freguesia. Que tempo tão bonito! O Pelourinho nem tinha lá no alto a figura do Conquistador talhada em pedra. A Vila de Alcanede é tanto minha como os Mosteiros onde vim ao mundo no quarto e cama dos meus pais, que assim era a regra. Depois, …tempo de “trevas históricas”, nem telefone, nem água, nem electricidade, nem casas de banho nas habitações – vida quase em Estado de Natureza – assim Alcanede e a sua freguesia! Que posso eu sentir agora? – aquilo que escrevo nessa “Alcanede minha Mátria”; e uma certa revolta por se fazer tão pouco numa terra tão vasta e com um potencial fantástico. A política e os políticos nem sempre fazem o que devem, porque lho consentem…!

No meu Livro Um, “Ao correr da vida”, deixo Memórias desde os tempos da meninice por aí até quando as escrevi, e penso que é importante o relato que faço das guerras coloniais, por onde andei desde 1964 até 1974. No Livro Dois “Textos Dispersos”, recolho material diverso e de vertente didactica produzido na fase em que leccionei no Instituto de Altos Estudos da Força Aérea. No Livro Três “Intervenções”, tenho guardados cento e tal Artigos de Opinião publicados na imprensa entre 2007 e 2013. O Livro Quatro é o “Alcanede minha Mátria”; o Cinco é “Veiros, per Omnia Saecula” onde faço a história do passado e presente desta terra onde vivo e donde procede metade do sangue dos meus filhos; o Seis é “O Castelo de Alcanede”; e o Sétimo é o “Suplemento Especial a Alcanede minha Mátria”, que veio despoletar estes interesses numa entrevista, a que correspondo, de modo diferente, com esta Carta. Não levem a mal, mas sinto-me menos egoísta. Lavro agora no Livro Oito – dentro do mesmo estilo onde caso imagens e textos – e aí faço o retrato de Antuã-Estarreja ao longo dos tempos e na actualidade, a que darei o título “Estarreja, Virtude e Vício”.

Bem-haja, Portal Alcanede e os irmãos Coelho, grandes obreiros dessa “empresa” de comunicação em Alcanede.

16 de Agosto de 2018,

Joaquim Victorino

(Nota: ignoro o Acordo Ortográfico em vigor)
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