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Quarta-feira ,24 Abril, 2024
Entrevistas

Emílio Pestana: “Diz-se muita coisa que não é verdade”

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epestanaA Sociedade Musical e Recreativa do Xartinho foi fundada no dia 1 de Janeiro de 1944. Foram seus fundadores Albino Artur, Joaquim Lopes e José Lopes. O seu primeiro maestro foi Sr. Joaquim Lopes. Seguiram-se outros nomes de referência como Santos Rosa, Jaime Justo, Armandino Leitão, Major Mário Marques e actualmente Pedro Andrade. A sua primeira actuação efectuou-se nas festas religiosas do Domingo Magro de 1945 no lugar de Mosteiros.

Nesta entrevista ao Portal de Alcanede, Emílio Pestana (Presidente da S.M.R.Xartinho) considera que “… a banda de Alcanede não é a mãe de todas as bandas e que os habitantes do Xartinho deveriam ser mais bairristas”.

Emiliopestana1Portal Alcanede (PA) – Há quanto tempo gere (em conjunto com a sua equipa) os destinos da Sociedade Musical e Recreativa do Xartinho (S.M.R.X)?

Emílio Pestana (EP) – Vai fazer dois anos em Dezembro.

PA – Como tem sido a experiência?

EP – Tem sido difícil. Não temos verbas para funcionar, temos funcionado só com a prata da casa, com o dinheiro que vamos angariando dos sócios, festas e do bar.

PA – A Banda do Xartinho leva já 66 anos de história. Sente de alguma maneira o peso da responsabilidade, com tantos anos de história?

EP – Sim, obriga a que tenhamos de trabalhar mais para que as tradições da banda se mantenham.

PA – A Banda surge depois de um desentendimento de alguns músicos com a Banda de Alcanede. Independentemente das razões que levaram os seus fundadores a criarem esta instituição nos anos 40, foi uma forma do Xartinho e as zonas limítrofes demonstrarem o seu bairrismo?

EP – Em relação a esse assunto gostava de dar uma achega. Diz-se muita coisa que não é verdade. Houve músicos que vieram da banda de Alcanede fundar a banda do Xartinho, é um facto, mas o que trouxe para aqui os músicos de Alcanede deveu-se à banda da vila parar a certa e determinada altura. Não foi a banda do Xartinho que foi tirar os músicos a Alcanede. Foram dois ou três que saíram de Alcanede e que depois foram buscar mais pessoas que não pertenciam à banda alcanedense. Os documentos escritos e fotografias que temos na nossa sede confirmam como tudo se passou.

A banda quando começou tinha apenas 14 ou 15 jovens.

Recentemente estive no aniversário da banda de Alcanede e ouvi o presidente da S.F.A dizer que “… a banda de Alcanede tem sido a mãe das bandas todas.” Isto deve ser esclarecido e gostava que o fosse de uma vez por todas. A banda de Alcanede não foi a mãe das bandas todas. A de Alcanede é uma, a do Xartinho é outra e a da Gançaria outra. Se calhar a do Xartinho sofreu mais com o surgimento da banda da Gançaria do que a de Alcanede. Aqui existiam os músicos chave (que eram da Gançaria) trombones, contra-baixos, saxofones… Aquele núcleo mais forte foi para a banda da Gançaria, eram de lá e com naturalidade para lá foram.

A banda do Xartinho é formada por músicos de Valverde, Pé da Pedreira, Viegas, Mosteiros, Mata do Rei e apenas dois músicos do Xartinho e nunca teve mais do que três ou quatro daqui! Por incrível que pareça nunca houve cá mais!

Os nossos estatutos dizem que os músicos da banda do Xartinho são oriundos das terras limítrofes do nosso lugar e não exclusivamente do Xartinho.

O que eu acho que não está correcto é dizerem que a banda de Alcanede parou a actividade, uma ou duas vezes, porque as outras bandas lhes roubaram músicos! Isso não está correcto.

Emiliopestana3PA – Sente o bairrismo dos habitantes do Xartinho?

EP – Não, pelo contrário. Nós no Xartinho sentimos um pesadelo. Isto para nós é um pesadelo. A banda é apoiada por todos os lugares da freguesia e pelo Xartinho nunca teve apoio.

PA – Porquê?

EP – Porque as pessoas não são bairristas, limitam-se a ver. Está à vista de todos, a banda para ter uma direcção, ela não é do Xartinho. Para a banda não morrer tem de vir pessoal de fora tomar conta dela. Eu venho das Viegas. As pessoas aqui não ligam à banda.

PA – Hoje em dia, há um bom relacionamento entre as duas instituições musicais, Alcanede e Xartinho?

EP – Existem coisas que se fazem, que ficam mal, mas vamos engolindo pouco a pouco. Desde que aqui estou nunca tivemos a coragem de roubar um músico à banda de Alcanede, mas a de Alcanede quando sente que há qualquer coisa aqui que não corre da melhor maneira, tenta aliciar alguns dos nossos músicos do núcleo duro. É triste ter de dizer isto, mas é verdade.

PA – A vida associativa nunca foi fácil. Além das críticas de que os seus dirigentes muitas vezes são alvo, há também a dificuldade financeira. Como está actualmente a situação económica da S.M.R.Xartinho?

EP – Está como as outras. Está mal, mas mesmo assim nunca esteve tão organizada como está agora. Comprou esta sede, temos uma carrinha para a escola, tem a escola a funcionar, algo que não acontecia à dois anos atrás. Teve 10 anos sem escola de música, algo que levou a banda um pouco abaixo, porque os músicos mais velhos foram saindo e novos não tinham condições para entrar. Tudo foi conseguido através do núcleo da direcção e dos elementos da banda.

PA – Faltam apoios?

EP – Sim. Há firmas que realmente vão dando algum apoio com o que podem e vamos vivendo assim. A junta de freguesia tem dado os subsídios habituais e tem feito um belíssimo trabalho, agora a câmara de Santarém… pelo amor de Deus! Esqueceu-se de nós. Nesta altura já temos todos os protocolos assinados e ainda nem sequer vimos o dinheiro dos protocolos do ano passado. Neste momento já temos situações com dois anos de atraso.

PA – Quantos associados?

EP – Poucos. Chegámos a ter trezentos e tal, mas as coisas não tem funcionado. As dificuldades financeiras das pessoas não permitem melhor e ultimamente as pessoas deixaram de pagar. Normalmente pelo aniversário costumamos montar uma pequena banca para pagamento das quotas e aparecem meia-dúzia deles.

Emiliopestana2PA – A juventude marca forte presença na S.M.R.Xartinho?

EP – Sim. Neste momento o músico mais velho tem 28 anos. A base situa-se dos 8 aos 28, incluindo o Mestre que tem 24 anos.

PA – São muito requisitados dentro e fora do país?

EP – O calendário está todo preenchido para este Verão. Durante o Inverno, também temos sempre actuações, 3/4 por mês.

PA – O Maestro Pedro Andrade está satisfeito com o trabalho realizado?

EP – Ele está satisfeito e eu também. Tem feito um trabalho lindo, bonito e tem nesta altura cerca de 30 miúdos na escola da música. Não somos nós que vamos atrás deles, vem por auto-recriação.


PA – Temos neste período os habituais festejos do Xartinho e com actuação da S.M.R.Xartinho?

EP – Sim. Vai ser no dia 12 de Junho.

PA – Obrigado, por nos ter recebido e felicidades…

EP – Muito obrigado são sempre bem vindos…

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