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Sexta-feira ,19 Abril, 2024
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As potencialidades da Serra do Alecrim

As potencialidades da Serra do Alecrim

Com data de 31.03 tive oportunidade de ler na edição online de O Ribatejo uma notícia breve intitulada “Embaixador da China está de visita Santarém” que me despertou atenção e curiosidade.

Entretanto fui surpreendido com outra notícia “Presidente da Câmara de Santarém e Embaixador da China visitaram zona industrial de Alcanede. Exportações de pedra calcária da Serra de Aire e Candeeiros crescem 50% para o mercado chinês”, inserida no Blogue Tinta Fresca de 02.04.11 e cuja fonte é o Gabinete de Relações Públicas da Câmara Municipal de Santarém.

Achei muita piada a esta última notícia que é pelo menos estranha como se só agora se tivessem descoberto as potencialidades das pedreiras da Serra do Alecrim, Murteira, Pé da Pedreira, Barreirinhas e Valverde, e já se tivesse esquecido a grande contribuição que estas pedreiras têm vindo a dar para a economia do concelho de Santarém, e regiões limítrofes, ao longo de muitos anos, como foi o grande boom com que as mesmas contribuíram para as grandes obras da Expo-98. Será possível que se tenham esquecido? Ou será que não sabiam mesmo?

O certo é que os senhores de Santarém, nunca se lembraram bem desta região importante do seu concelho, a sua espinha dorsal em termos económicos, e nunca fizeram nada para que o seu crescimento pudesse ser consolidadamente sustentado, a começar pelas vias de comunicação, tanto rodoviárias como ferroviárias.

Veja-se o caos que é a ER 361, de Alcanena a Alcanede, que poderia ligar, satisfatoriamente, Alcanede à A1 no nó de Torres Novas e promover as economias não só da Serra e das suas pedreiras, inquestionavelmente importantes, mas também as freguesias adstritas, Abrã com o grande pólo de desenvolvimento industrial que é sem sombra de dúvida Amiais de Cima e Amiais de Baixo que está a sentir a crise mas que continua a ter grandes potencialidades.

Em abono da verdade, o esquecimento acerca desta espécie de estrada que há muitos anos é a ER 361, não tem sido só da Câmara de Santarém, apesar do seu concelho ser o maior beneficiário direto quando e se a mesma vier a ser arranjada. A Câmara de Alcanena também tem muitas culpas no cartório com o seu silêncio cúmplice acerca deste escândalo que afeta diretamente as suas freguesias de Monsanto e de Alcanena. Mas tem optado pelo silêncio como forma de ser, de estar e de sentir, o que é lamentável.

Promessas para a modernização desta via estruturante de ligação do interior ao litoral, têm sido muitas e já vêm do tempo da monarquia, do tempo do bacalhau a pataco. Só para lembrar, nessa altura, os políticos dessa época até chegaram a prometer um “braço de mar” para o Covão do Feto e, claro, arranjar a estrada. As últimas edições de promessas já foram nesta década, nestes últimos anos, continuando a dita estrada a degradar-se todos os dias a olhos vistos, sem que alguém faça algo para a recuperar, para além das habituais promessas. Mas como estamos em pré-campanha eleitoral, momentos propícios para todas as ditas cujas, vamos certamente ouvir mais do mesmo nos próximos dias.

Tudo isto para dizer que no tempo das vacas gordas, também foram as forças vivas de Santarém, e especialmente a autarquia da época, que inviabilizaram a continuidade do IP6 pelo seu traçado natural, por Alcanena, Amiais de Cima, Alcanede e Rio Maior até Peniche. É só para lembrar para que a memória não esqueça. Optaram por fazer a A15 para estar às moscas e o povo a pagar por quem não anda por lá. Por isso atrevo-me a perguntar o que é que o concelho de Santarém ganhou com a A15? O que perdeu com a falta do IP6 nem vale a pena perguntar porque isso é bem visível. Quer isto dizer que se o IP6 tivesse seguido o seu itinerário racional, Alcanena, Monsanto, Amiais, de Cima e de Baixo e Alcanede estariam hoje muito mais desenvolvidos em todos os aspetos. Mas os homens quiseram assim e os resultados estão á vista, apesar de toda a força e perseverança daquela gente de garra.

No sector ferroviário, a CP que há mais de 50 anos chegou a ter um projeto estruturante para ligar por caminho-de-ferro as estações do Entroncamento a Caldas da Rainha, melhor dizendo as Linhas do Norte, Beira Baixa e Leste à Linha do Oeste, mas o mesmo também foi arquivado em qualquer gaveta das Escadinhas do Duque, de Santa Apolónia ou do Terreiro do Paço. Foi também esquecido, porque o interior tem sido sempre tratado da mesma forma e hoje já ninguém se lembra disto.

Entretanto, vieram há pouco com a história de ligarem a Estação se Santarém à das Caldas, como se fosse a mesma coisa. Mas a mesma coisa foi tudo ter ficado esquecido como se não houvesse necessidade, em termos económicos, de se pôr no mapa uma região importante dum concelho marialva. Um como o outro ficaram em águas de bacalhau, como diz o povo.

Ao analisarmos este momento crucial, da parte mais importante, em termos económicos do concelho que é capital do Distrito, constatamos que desta vez, segundo a notícia, foi lá uma grande comitiva da cidade mas os autarcas locais, ou não estiveram presentes ou deliberadamente foram esquecidos no relato dos factos.

Com todas as potencialidades conhecidas de toda esta região, com toda a força empreendedora dos seus empresários, com toda a capacidade de trabalho de toda aquela gente, vejam bem o que seria esta região se ela já estivesse dotada de vias de comunicação minimamente aceitáveis, como há muito merece e precisa.

De qualquer forma, e é bom não esquecermos, há um Movimento de Alcanede para a reconstrução da ER 361 que tem tido um trabalho esforçado e tanto quanto sabemos ainda não cruzou os braços e vai continuar a lutar pelos seus direitos mínimos, o que é de louvar.

Alcanede e toda a região envolvente bem merecem todos os apoios. E Santarém, a sua capital, também terá que jogar rapidamente os seus trunfos, em defesa desta sua importante região que bem contribui para os seus cofres, que é sua filha e não parece estar a ser tratada como tal.

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