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Alcanede recebe exposição histórica até 7 de março

A exposição “500 anos do foral de Alcanede e Pernes”, depois da estreia em Santarém, chegou agora à vila de Alcanede. O ato inaugural, presenciado por cerca de sessenta pessoas, decorreu nas instalações da Junta de Freguesia, no dia 8 de fevereiro de 2014, contando com um painel de oradores que deram uma autêntica lição de história ao vivo.

A iniciativa, organizada pela Câmara Municipal de Santarém, é apoiada pelas autarquias locais de Alcanede e Pernes, sendo coordenada pelo historiador José Raimundo Noras e estará patente na nossa vila até ao próximo dia 7 de março de 2014.

A saudação de boas vindas coube à Presidente da Junta de Freguesia anfitriã, que salientou a importância de tornar itinerante esta exposição, “tratando-se do foral de Alcanede e Pernes, fazia todo o sentido pedir à Câmara Municipal que deslocasse esta mostra bibliográfica às duas vilas”, disse Cristina Neves, recordando que a exposição esteve patente em Santarém, na sala de leitura Bernardo Santareno, entre dezembro de 2013 e o passado mês de Janeiro.

Convicto da forte simbologia da efeméride, o Presidente da autarquia de Santarém afirmou que, “não podíamos deixar passar esta data e, neste sentido, há já alguns meses falámos com o Dr. José Raimundo Noras para estar à frente destas comemorações”. Segundo Ricardo Gonçalves, a inauguração em Alcanede, “é apenas um dos atos que queremos levar a efeito ao longo deste ano”, estando já confirmada a presença desta exposição em Pernes.

O autarca deu ainda conta de que será constituída uma comissão para as comemorações dos 500 anos do foral, convidando “além das juntas de freguesia, pessoas que já escreveram livros sobre as duas terras, as Santas Casas da Misericórdia locais e mais algumas pessoas ilustres de Alcanede e Pernes” para integrarem essa comissão, frisou Ricardo Gonçalves. O momento serviu também para lançar um desafio à direção do Agrupamento de Escolas Dom Afonso Henriques, para se estudar a possibilidade de se “fazer alguma representação histórica deste foral em conjunto com as duas freguesias”, disse o edil.

Satisfeito pelo desenrolar das atividades comemorativas do meio século do foral de Alcanede e Pernes estava o seu coordenador, “era um assunto sobre o qual já tinha lido no livro do Sr. Joaquim Vale Cruz e que depois aprofundei através de várias consultas de documentos sobre Alcanede”, ressalvou José Raimundo Noras, reforçando a ideia de que a exposição teria, “forçosamente de passar pelas duas vilas”.

A mostra, agora patente em Alcanede, resulta “de um trabalho de pesquisa em vários arquivos e bibliotecas do país”, feito pelo historiador e que durou cerca de três meses. Para Raimundo Noras, esta exposição “foi um descobrir de segredos, descobrir o que se tinha escrito sobre Alcanede”, cujo objetivo pretende “não só honrar o passado, mas também construir algo para o futuro”, deixando ainda no ar a pergunta, “há quanto tempo este foral não estaria aqui entre nós?”, uma pergunta sem resposta, mas que deixa o historiador honrado em “voltar a trazer o foral a Alcanede”, disse orgulhoso.

Juntamente com o foral, e pela primeira vez em exposição, está também patente nesta mostra bibliográfica “um manuscrito muito interessante, que é a primeira história escrita da vila de Alcanede e das freguesias que então integravam o concelho”, Abrã, Fráguas, Alcobertas e também Pernes, “que é a notícia histórica e topográfica da vila de Alcanede escrita por um ilustre habitante de Pernes, Simão Froes de Lemos”, lançando o repto, “gostaria muito, se fosse possível e pela primeira vez, de editar em livro este manuscrito”, disse José Raimundo Noras.

O foral foi descoberto no século XIX, numa mercearia em Pernes, tendo sido adquirido por um ilustre cidadão local, João Manuel Carvalho Júnior, em 1878, e posteriormente oferecido à Biblioteca Municipal de Santarém, então designada de Biblioteca Camões.

Presente na cerimónia esteve também Joaquim Vale Cruz. O escritor, que em 1995 escreveu uma Monografia sobre a vila de Alcanede, mostrou-se satisfeito por integrar a comissão comemorativa dos 500 anos do foral, à qual acedeu com muito gosto “dada a ligação sentimental que me prende a esta terra e às suas gentes, de tal forma gentis, amáveis e amigas, que jamais as poderei esquecer pois aqui vivi a minha infância”, disse emocionado.

Na sua alocução, Vale Cruz explicou as origens dos forais, “uma carta de foral, ou simplesmente foral, era um documento real utilizado em Portugal e no seu antigo império colonial que visava estabelecer um concelho e regular a sua administração, limites, privilégios, direitos reais e tributos”, tendo sido concedidos entre os séculos XII e XVI.

Segundo o escritor, estes documentos eram “determinantes para assegurar as condições de fixação e prosperidade da comunidade”, assim como para o “aumento da sua área cultivada, antes baldia, para concessão de maiores liberdades e privilégios aos seus habitantes” num momento da história “em que as populações eram sujeitas a um regime de trabalho semiescravo, na qualidade de servos dos senhores feudais”, referiu Joaquim Vale Cruz.

No contexto das celebrações da exposição dos 500 anos do foral de Alcanede e Pernes, Mário Rui Silvestre, autor de vários livros e colaborador regular em jornais e revistas de cultura, revelou na sua apresentação que era uma honra estar em “Alcanede para celebrarmos um foral que solidifica a união entre as duas localidades”.

O também contista e historiógrafo, natural de Pernes, explicou a razão do uso da palavra “solidifica” no contexto da efeméride, “porque quando o foral é dado, já se contavam 350 anos dessa união administrativa e depois do foral ainda mais 341 anos! Foram cerca de 700 anos de vivência em comum, com muita dor e muita alegria neste chão”. Laços que perduraram no tempo, apesar de, em 1855, Rodrigo Fonseca de Magalhães, um “político muito astuto que tinha vindo do primeiro liberalismo, ter extinguido os concelhos de Pernes e de Alcanede”.

Numa envolvente apresentação, Mário Silvestre revisitou vários lugares e personagens numa linha temporal que começou com a viagem de D. Afonso Henriques, de Coimbra até à conquista de Santarém, “é a raiz e a génese de Alcanede e Pernes estarem unidas (…) foram cinco dias e cinco noites épicas, das mais épicas, não só da história local mas da história Nacional”, disse.

Nesta viagem pelo tempo, o escritor destacou o nome de várias famílias e personalidades históricas, entre elas, Vasco Pérez de Camões, “dono do Castelo de Alcanede, em 1379” por doação de D. Fernando, “é ele que, em Santarém, dá o braço a Leonor Teles para receberem D João I de Castela”. Homem que mais tarde viria a cair em desgraça, após a “Batalha de Aljubarrota, perdendo tudo o que tinha e desaparecendo dos alçapões da história”.

Durante a sua apresentação, o historiógrafo deixou também um sublinhado para personalidades como o Padre Luís Cardoso e Simão Fróis de Lemos, autor da célebre notícia histórica de Pernes e Alcanede, que “é talvez o relato desta região mais importante do século XVIII”, salientou.

O escritor considerou ainda, que a obra legada pelo Padre Luís Cardoso é “muito importante, porque só foram publicados dois títulos, o resto está inédito na Torre do Tombo”, existindo naquele acervo “uma entrada sobre Alcanede que é de longe a mais extensa da obra”, disse Mário Rui Silvestre.

A exposição, em Alcanede, está patente na sala onde habitualmente decorrem as Assembleias de Freguesia, sendo possível visitá-la entre as 09h30 e as 12h30 e das 14h30 às 17h30, de segunda a sexta-feira, até ao próximo dia 7 de marco de 2014. 

A cerimónia de inauguração da mostra bibliográfica, “500 anos do foral de Alcanede e Pernes”, contou também com um pequeno momento musical interpretado por Bruno Simões e Pedro Frazão, elementos da Sociedade Filarmónica Alcanedense.

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