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Domingo ,3 Novembro, 2024
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Os eucaliptos da Volta Grande – ordem para cortar? – Opinião de Adelino Madeira

Recentemente a Infraestruturas de Portugal realizou uma vistoria ao arvoredo da estrada nacional 362 de que resultou a proposta de abate de 50 dos grandes eucaliptos das ber-mas da estrada, entre Alcanede e Valverde.

A vistoria foi realizada por dois técnicos da IP e avaliou as árvores de uma extensão de 30 km de estrada, concluindo pela necessidade de cortar 120 árvores. Tudo isto em apenas um dia, numa produtividade que nos faz questionar o rigor e o fundamento técnico das conclusões a que chegaram.

São muitos e variados os argumentos usados para se propor mais esta razia, basicamente de duas ordens – a segurança rodoviária e o mau estado das árvores. Argumentos que são contraditórios com a prática da IP: o mau estado do piso, a insuficiência de rails de prote-ção, ou ausência de bermas e de condições de circulação dos peões, parecem-nos riscos maiores para a segurança rodoviária, sendo da exclusiva responsabilidade da IP e resul-tando do descuido e do abandono a que esta empresa tem votado a estrada; quanto ao estado das árvores, não duvidamos que algumas necessitem mesmo de ser abatidas, mas, lembremo-nos de que, provavelmente, nunca tiveram qualquer cuidado de manu-tenção; dê-lhes a IP a necessária poda de limpeza dos ramos secos, bem executada, e teremos árvores por mais umas décadas.

Também aqui, tal como um pouco por todo o país, vemos a IP, com fundamentos técnicos apressados, usar todos os argumentos possíveis para justificar os abates que pretende realizar. A rapidez com que são tomadas estas decisões, aliada ao abandono a que o ar-voredo das bermas das estradas tem estado sujeito, permite-nos supor que os cortes que a IP pretende têm mais a ver com preconceito, (o arvoredo de beira de estrada é para cor-tar), e com questões economicistas, (veja-se os custos de manutenção e poda das árvo-res comparados com o corte raso, e com o valor da biomassa que, assim, fica disponível), do que com verdadeiras questões técnicas e de segurança rodoviária.

Preparam-se agora para fazer na Volta Grande o que fizeram em 2019 aos eucaliptos mo-numentais da Aldeia da Ribeira, o corte raso, a delapidação de um património natural e paisagístico único. É a ocasião de nos perguntarmos quais foram os benefícios do abate dessas árvores para a população e para os utilizadores da estrada? A estrada não foi alargada, as bermas continuam uma lástima e a circulação de peões um perigo. Deixaram de cair ramos na faixa de rodagem, é verdade, mas isso devia-se apenas à negligência da IP que nunca cuidou dessas árvores e que, com uma poda correta, poderia ter resolvido o problema poupando-as.

Adelino Madeira


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