A expressão do título do artigo ouvia várias vezes de gente que vive nas serras de Aire e Candeeiros e que, conhecendo-me bem e sabendo do meu gosto pelas “coisas” destas serras, metiam conversa comigo. E, assim, lá íamos partilhando o nosso conhecimento, um mais académico e outro mais vivido e experiencial, mas um não menos importante que o outro.
O termo “galego” reporta à Galiza (Espanha) e tem vários significados em Portugal, normalmente é usado para qualificar um trabalho árduo que requer esforço físico, mas também pode ter um significado pejorativo para designar as pessoas do norte, de baixa conduta, malcriados que fazem tudo à bruta.
“Galego” ou “galega” é também um termo usado na designação de nomes comuns de variedades de frutos e legumes (couve-galega), assim como nome de animais (mocho-galego), significando esse atributo, em regra, “pequeno”. Ou seja, carateriza qualquer coisa que se assemelha a outra mas que é mais pequena.
No caso da expressão do título deste artigo, o termo tem um significado ligeiramente diferente, não conhecendo eu bibliografia ou informação disponível que associe o significado da explicação que eu lhe faço. Daí a razão de eu estar a partilhar esta expressão como uma curiosidade para os leitores do Portal de Alcanede, na medida em que uma parte da freguesia é abrangida pelas serras de Aire e Candeeiros.
Neste caso, na serra, a referência ao termo “galegos”, faz alusão aos pequenos pássaros migradores que se observam no final do verão, cujas espécies não ocorrem na serra a não ser neste curto período de tempo.
Conjeturando uma explicação na sua ligação com o significado mais generalizado da expressão “Galegos”, ela entronca no facto de: serem pequenas aves em tamanho; serem aves estranhas à região, com permanência no território de curta duração; terem proveniência do norte, no sentido em que são espécies migradoras que migram nesta época de Norte para Sul.
As migrações de aves são fenómenos do mundo animal com carácter periódico, que consistem em encetar um conjunto de deslocações no espaço geográfico de forma a alcançar um determinado destino, onde as condições são mais favoráveis à vida, designadamente, em termos climatéricos e de alimentação.
Os “galegos” são observados nas nossas serras no decurso da sua migração e diferem assim das outras espécies de aves migradoras, as estivais e as invernantes, porque, simplesmente, não ocorrem na nossa região, nem na Primavera, nem no Inverno.
Quando falamos dos “galegos”, em termos de censo-comum, estamos a referirmos a meia dúzia de espécies de pássaros de fácil observação, cujos cantos entoam como se assinalassem já a chegada do Outono. São os papa-moscas, o preto e o cinzento; o Papa-amoras; a Toutinegras-das-figueiras; as felosas, etc. Mas, um observador mais experiente pode acrescentar a este rol facilmente dezena e meia de espécies de aves, que só neste período podemos contemplar.
Para quem tem o gosto pela observação da natureza, especialmente das aves, é um período muito interessante para calcorrear a serra, pois podemos ter a possibilidade de observar aqui tão perto espécies cuja distribuição natural ocorre a centenas e a milhares de quilómetros da nossa região.
Luís Ferreira