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Sexta-feira ,19 Abril, 2024
Entrevistas

António Valente: “Um corpo de bombeiros voluntários nunca está sem comando”

Numa altura em que a instabilidade nos bombeiros voluntários de Alcanede se agravou com as demissões do comandante Paulo Santos e do 2º comandante Joaquim Santos por solidariedade, fomos tentar perceber junto da câmara municipal de Santarém que cenário ou cenários se colocam agora à instituição alcanedense, que vive há cerca de um ano com uma direção demissionária. Nesta entrevista, António Valente dá a sua opinião sobre os acontecimentos passados e atuais, fala do abaixo-assinado que pedia a demissão da direção e garante que lhe foi dito que o problema nos bombeiros de Alcanede não é dinheiro, mas sim problemas internos.

antoniovalente1Portal Alcanede (PA) – No seu entender, que cenário ou cenários se colocam à instituição que serve as populações de Alcanede e Gançaria depois da demissão do comando e perante uma direção demitente há vários meses?

António Valente (A. Valente) – Confesso que tenho muita pena que o Sr. Comandante tenha saído, assim como o Sr. 2º Comandante, mas a associação com certeza irá prosseguir a sua atividade normal. Eles lá terão as suas razões.

A câmara municipal de Santarém e eu em particular, não tem que se imiscuir nos problemas de uma associação do concelho. Uma intervenção direta por parte da autarquia seria, por exemplo no caso de se tratar do comandante ou dos bombeiros municipais. É claro que me preocupo com a situação que se vive em Alcanede, tanto mais que há cerca de duas semanas pedi para ter uma reunião com todos os órgãos sociais da associação para me inteirar dos problemas e se possível ajudar. Foi-me dito que o problema não era financeiro, mas sim um problema interno, isto foi-me me garantido pelo presidente da direção, pelo presidente da AG e pelo presidente do conselho fiscal.

PA – Um problema interno exclusivo da direção ou também com o Comandante?

A. Valente – Um problema interno dos bombeiros voluntários de Alcanede. Eu não sou sócio da associação e não quero estar a emitir uma opinião a esse respeito. Aquilo que estou a dizer é reproduzir as palavras do Sr. Manuel Rosa que o problema é interno, algo que tem ser resolvido internamente e que não tem nada a ver com o município nem com aspetos de ordem financeira.

Eu não sabia o que se tinha passado para que a atual direção tivesse demissionária, daí que tenha pedido uma reunião. Na noite em que estive reunido com os órgãos socias, mostraram-me o porquê de estarem demissionários. Se estivesse no lugar deles teria feito exatamente a mesma coisa. Mostraram-me um abaixo a assinado por 45 pessoas, pelo que me parece bombeiros e onde pediam a demissão da direção, alegando que a mesma não tinha desenvolvido trabalho que lhes agradasse…

PA – Desculpe interromper, mas estamos a falar de uma situação que aconteceu há mais de um ano, Janeiro/Fevereiro de 2010. Durante todo este tempo não lhe foi comunicado que isso tinha acontecido?

A. Valente – Foi comunicado pela direção que a mesma estava demissionária, mas não me disseram quais os motivos. Disseram-me que iria ser feita uma Assembleia-geral (AG) para se encontrar uma lista para se constituírem os novos órgãos sociais…

PA – Lista que não surgiu…

A. Valente – Mas eu percebi porquê naquela reunião. Percebi que aquilo de que a atual direção era acusada, era de tal maneira grave, que se calhar com a crise do associativismo que existe neste momento, duvido que alguém depois de ler aquele abaixo-assinado tenha disposição para assumir a direção de uma associação desta natureza. Eu se calhar também não estaria disponível. Espero que Alcanede consiga ultrapassar esta situação e que surja alguém.

Quem faz ou promove um abaixo-assinado daquela natureza, tem a obrigação moral de constituir uma lista ou apresentar uma lista alternativa. Pelo que fui informado pelo presidente da AG, aconteceram três Assembleias-gerais depois daquele episódio e nunca apareceu ninguém disposto a assumir a direção. A responsabilidade das pessoas que fazem um abaixo-assinado daqueles era no mínimo terem uma alternativa aos que lá estão ou então, mandam embora os que lá estão e fecham a porta!? Não me parece que fosse essa a vontade. Pediram a demissão dos atuais corpos sociais e eles demitiram-se. Ou seja, a atual direção cumpriu o que lhe era solicitado naquele abaixo-assinado, mas quem o fez (abaixo-assinado) não cumpriu a parte dele.

PA – Em Alcanede, não só nos bombeiros, mas de uma maneira geral a noção que temos é de que é norma/tradição que uma direção em final de mandato procure (ela própria) alternativas. Ou seja, encontre a renovação antes da despedida. Aliás, essa é precisamente uma das acusações feitas à direção demissionária…

A. Valente – Essa pergunta terá que ser feita à direção demissionária. Mas, analisando os factos, dizer que a atual direção não criou as condições sabendo que aconteceram três assembleias-gerais, tenho dúvidas. Atenção que não estou aqui como advogado da direção demissionária. Tenho uma excelente relação com eles e terei com os que para lá forem.

PA – Nesta altura o Corpo de Bombeiros Voluntários de Alcanede está sem comando…

A. Valente – Não, não está. Um corpo de bombeiros voluntários nunca está sem comando. O senhor comandante ainda lá está…

PA – Até 8 de Abril…

A. Valente – Sim até dia 8 e depois os estatutos preveem todas as alternativas e posso dizer-lhe quais são. É encontrar dentro do quadro dos bombeiros, um que interinamente possa desempenhar as funções de comando. Pelo que sei, há três oficiais de bombeiros em Alcanede. Qualquer um deles pode assumir o comando e essa é uma decisão da atual direção ou da que vier a ser eleita. Se esses oficiais não estiverem interessados, pode descer-se hierarquicamente até ao posto de chefe e também há chefes em Alcanede. Volto a sublinhar, interinamente no comando. Porque nomeado até pode ser um bombeiro de 3ª classe, mas interinamente seguem-se os trâmites anteriores. Se não for encontrado nenhum, aquilo que está previsto é que o presidente da direção é o comandante. Mas essa é a ultima hipótese.

PA – Acredita que agora, nesta fase, vai surgir uma lista para assumir a direção da A.H.B.V.Alcanede?

A. Valente – Eu não tenho que acreditar. Quem tem de acreditar são as pessoas de Alcanede, a atual direção e os bombeiros. Tem sido investido nos últimos anos muito dinheiro nos bombeiros de Alcanede para que as operações de socorro decorram da melhor maneira. Nesta altura não seria justo fechar-se a porta depois de todos os investimentos. A construção do novo quartel dos bombeiros, a aquisição de três ambulâncias, a aquisição de um veículo de desencarceramento, na remodelação de um trator (oferecido por um bombeiro) em que foi adquirida uma cisterna de água, a candidatura ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) no ano passado para aquisição de máscaras, material de desencarceramento e outro tipo de equipamentos de emergência. O desfibrilhador, que Alcanede foi das primeiras corporações a receber esse tipo de equipamento.

PA – Uma das razões de queixa apresentadas prende-se com a falta de dinheiro. De resto, na última AG na apresentação do relatório de contas ficou claro que o município de Santarém se atrasa no pagamento das verbas que são devidas à instituição…

A. Valente – Exatamente, o município atrasa-se com essas verbas que são devidas protocolarmente à associação, mas sempre se atrasou, mas também sempre o cumpriu. Convém referir que a autarquia coloca mensalmente à disposição dos bombeiros voluntários de Alcanede 6293 euros relativos ao empréstimo da construção do quartel.

PA – E o pagamento dessa verba é rigorosamente cumprido?

A. Valente – Está a ser cumprido na íntegra. O que está atrasado são os valores do protocolo, mas não é só aos bombeiros de Alcanede, também Santarém, aos voluntários de Pernes, também a extensão dos Amiais (BVPernes). Mas isso sempre aconteceu e sempre foi regularizado. Uma coisa é certa, a câmara de Santarém vai cumprir com todos, com um pouco mais de sacrifício dada a situação financeira do país, mas vai cumprir.

PA – Estamos a falar de quantos meses de atraso?

A. Valente – O último pagamento foi feito em Maio ou Junho de 2010.

PA – Vai fazer um ano. Qual o valor concreto?

A. Valente – Não sei o número exato, mas são 5 mil e tal euros por mês.

PA – Nesta altura é dinheiro fundamental para os voluntários de Alcanede. Concorda que seria um ótimo “balão de oxigénio”?

A. Valente – É com certeza. Não só para Alcanede, mas também para os de Pernes e Santarém. Também para os municipais de Santarém e para outras associações, para o Circulo Cultural Scalabitano, para a Banda da Gançaria, para todos. Infelizmente existem alguns atrasos, mas repito, a câmara municipal de Santarém cumprirá como sempre cumpriu. A autarquia assume o protocolo, uma vez que ele é assumido no início do ano e a direção conta com ele. Mas atenção, o protocolo não pode ser a única fonte de rendimentos, porque se assim for, claro que ficam com mais dificuldades. Ao que sei, os bombeiros de Alcanede realizam algumas iniciativas e por isso são feitas as candidaturas ao QREN para que possam adquirir equipamentos por valores mais reduzidos, reduções de 70 a 80%.

PA – Quando é que a câmara vai pagar os valores em falta? Vai ser em breve?

A. Valente – Vai com certeza ser em breve, a autarquia vai assumir esse compromisso protocolar. Lembro que há sempre atrasos, atrasos nas transferências do governo central, há atrasos na disponibilização de outros fundos financeiros. Normalmente quando depois se paga, a fatia é maior.

Reforço a ideia de que a demissão do Sr. Comandante, pela informação que recebi da atual direção, nada tem a ver com questões financeiras.

Ainda hoje (ontem) ao ler no Portal de Alcanede que o Sr. Comandante teria dito que os bombeiros tinham ido, do bolso deles, comprar alimentos durante um incêndio que decorreu o ano passado na zona da Abrã e onde eu estava presente, motivou que lhe telefonasse porque estava a dar a entender que a câmara nada tinha feito. Tenho testemunhas de que no dia do incêndio tentei procurar soluções para resolver o problema da alimentação dos bombeiros e foi ele próprio (Paulo Santos) que me disse para eu não me incomodar com essa questão, porque ele iria resolver o assunto. Eu lembro que essa responsabilidade de fornecimento de alimentos é da própria associação e não da câmara municipal. Seria uma iniciativa minha como forma de apoio, além de que, quem paga é depois mais tarde ressarcido dessa verba pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Três semanas antes (incêndio na zona de Amiais) aconteceu algo semelhante e os bombeiros foram comer ao Castelo de Alcanede e a um ou dois restaurantes de Amiais. Portanto, estranho muito que depois de me ter disponibilizado a resolver estes problemas me venham dizer que os bombeiros é que pagaram. Aconteceu porque o Sr. Comandante me disse que resolvia a questão.

PA – Essas foram declarações do Comandante Paulo Santos ao jornal “O Ribatejo” e que o Portal citou. Não fica claro que a crítica do Comandante fosse diretamente para o município, poderia estar a referir-se à direção?

A. Valente – Não sei. A verdade é que eu me senti porque foi a mim que foi dito que poderia estar descansado. Eu estava ao telefone a tentar resolver a situação. Poderão dizer que ainda não tinha resolvido o problema, pois não, estava a tentar. Para mais a um Domingo à tarde e venha cá alguém dizer-me que via telefone consegue arranjar refeições para duzentas ou trezentas pessoas num simples estalar de dedos.

Eu tenho um excelente relacionamento com o Sr. Comandante Paulo Santos e por isso lhe liguei a pedir para esclarecer o assunto sobre o caso em concreto. Foi-me dito que não era isso que queria dizer (em relação à câmara municipal de Santarém).

PA – Agora será marcada uma nova Assembleia-geral e teremos nova data para eleições. No campo meramente hipotético de não surgir, mais uma vez, uma lista candidata à direção o que poderá acontecer?

A. Valente – A direção que lá está tem a obrigação de se manter em funções até ser encontrada uma solução. Mas se isso acontecer, lamento profundamente que quem tomou a iniciativa de pedir a demissão da direção não arranje uma solução. Seja com for, garanto que a câmara municipal de Santarém terá o mesmo nível de relacionamento com qualquer que seja a futura direção. O bom relacionamento que existe com a atual será igual no futuro.

PA – Muito obrigado pelas suas declarações ao Portal de Alcanede.

A. Valente – Nada, eu também agradeço.

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