Um dialogo provável entre duas vizinhas, no lugar de Mata do Rei, há alguns anos.
«Ti Ana – É uma arrelia ver aquele trafulha, anda à maçã do chão, não tem orelo, es trafunga tudo quanto ganha.
Ti Paula – Pois sim, o pai era um manca-mulas, ia à Nazaré comprar pexe aos praieiros, tinha orelo. A mãe olha-me de esguelha por causa do sapeiroso do filho, se adrego emprestar-lhe o dinheiro… ficava a pau de pirlas.
Ti Ana – E ele ralado, ia comprar frapela pro casamento, com aquele corpanzil, a que tem tá curta.
Ti Paula – Lá vem ela, tráz más águas, parece qu` home andou à cachapourra e ela ainda levou uma punhada»
Ti Ana – Eh raio, não faz mel nem cera, mas p´ra quezílias tá por li. Levo esta couve às bitas, já andam a intejar a erva seca, é um remedeio, não há branduras pra amaciar. O mê hôme impazinou uma por ela ter cmido umas folhas de couve, um rebotalho prós coelhos, é um arpalhão sem trambelhos.
Ti Paula – Vou andando, ajeitar alguma coisa pró jantar. Se calhar uma sopa de vaca-de-corda com feijão encarnado, boto-lhe um bocadinho de chouriço pra ter algum charume.
Ti Ana – O mê Manel entornou-me o azeite de fregir as batatas pro môr do gato, raisoparta, rato-cego! Bem, tá aqui uma provela e tenho andado mal-achada das goelas. Até logo.»
A língua também é património, mas o português, sendo uma língua viva vai evoluindo com as novas necessidades chegando a ser chocante a utilização de inúmeros estrangeirismos sem ser preciso, tantas vezes só para evidenciar o orador e esbater a sua pobreza de espírito. Penso, aliás, que a voracidade da tecnologia só enche de memória os discos dos computadores, alienando as nossas memórias patrimoniais, aquelas que falam da nossa caminhada até ao século XXI.
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