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Terça-feira ,23 Abril, 2024
Artigos de Opinião

O último livro de Saramago é uma desilusão

O director do Secretariado Nacional da Pastoral Cultura, manifestou a sua “desilusão” com a obra Caim, novo livro de José Saramago. Em entrevista à Agência Ecclesia, o P. José Tolentino Mendonça considera que o Nobel da Literatura fez uma releitura “banal” do texto bíblico, longe das “páginas magistrais” de John Steinbeck em A Leste do Paraíso ou da interpretação do filósofo Paul Ricoeur da fraternidade como “decisão ética”.

A obra ficou envolta em polémica quando o autor, a propósito da apresentação mundial do livro, afirmou que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”.  A perplexidade trazida pelas afirmações de José Saramago é, no fundo, como é que um grande criador, um grande cultor da língua, pode olhar para a Bíblia – património de culturas diferentes e fonte de inspiração para tanta literatura – com o simplismo com que o faz e dizer as coisas que tem dito”, afirma o P. José Tolentino Mendonça.

O biblista lamenta que, em Caim, José Saramago escreva que a Bíblia é “o livro dos disparates”: “É uma redução inaceitável, não só do ponto de vista da fé, mas do ponto de vista da cultura”, defende.

O professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica considera que Saramago é um leitor que “revisita permanentemente a Bíblia”, seja em citações, seja nas suas personagens, mas o resultado desse esforço na sua última obra é, “absolutamente uma desilusão”.
“Esperar-se-ia muito mais da revisitação que um grande escritor pode fazer do texto bíblico”, indica, considerando que o livro é, “em grande medida, um texto banal”.

A Bíblia está aberta a várias leituras, crentes e não crentes, mas nem todas são válidas. O exegeta e poeta expressou a sua “perplexidade” por Saramago não tomar em consideração a necessidade de uma “interpretação” do texto, tomando-o à letra, “no seu absurdo”.
“O que impressiona nesta opção é ele [Saramago] recusar que aquele texto precisa de uma interpretação, de uma leitura simbólica”, declara.

O P. José Tolentino Mendonça realça que a Bíblia “é um livro de fé, que é lido a partir dessa perspectiva por milhões de pessoas, e ao mesmo tempo um livro de literatura, um ‘superclássico’”.
É necessária “uma compreensão da Bíblia enquanto texto literário para verdadeiramente chegar ao seu sentido”, é preciso “ir à terra do poeta”, perceber que há “um sentido segundo, terceiro, que não se pode ler de forma literal e unívoca, e que os géneros literários são para respeitar”.

O sacerdote madeirense considera também que as declarações de José Saramago sobre Deus e a Bíblia estão muito marcadas pela ideologia do escritor, mais do que por uma tentativa de “recriação profunda das temáticas abordadas nos textos bíblicos”.

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